Depois de um longo e tenebroso inverno…

…(e põe longo nisso), aqui estou novamente.

Este blog passou por algumas reformulações depois de uma crise de identidade minha. É exatamente sobre o tema dessa crise que falarei neste post: a atual imposição de ser nerd. Parece exagero, não é? Bem, talvez “imposição” seja exagero, mesmo, mas vamos refletir sobre o assunto.

Alguns anos atrás, era feio ser nerd. O imaginário que se tinha sobre o termo era aquele cara com expressão debiloide, óculos de fundo-de-garrafa, calça de cintura alta e com a bainha curta, de cabelinho partido ao meio ou de lado. Essa imagem foi mudando, mudando, mudando… as mulheres foram conquistando um espaço nesse universo… e hoje, o que temos é uma rotação de 180 graus: é bonito ser nerd. É in, é cult, é indie, é o raio que o parta valorizado. Até no Big Bosta Brother Brasil tem uma nerd assumida e assim alcunhada pela produção! Claro, então, que dentro da beleza de ser nerd, tem espaço sobrando pra beleza de ser gamer e pra beleza de ser geek.

Eu jogo desde os 5 anos, mas se você for considerar jogar em termos de saber o que se está fazendo, jogo desde os 9. Comecei com Doom II, Raptor e Prince of Persia (não o velhão, embora já o tivesse terminado antes – ah, a maldita batalha contra o espelho…). Aos 11, veio o meu primeiro RPG: Final Fantasy IV, que me levou a uma paixonite incurável. A partir daí, a coisa progrediu, e muitos outros jogos vieram, em frequência continuamente variável. Além disso, meu interesse por biologia e química (a primeira faculdade em que eu entrei foi Ciências Biológicas) sempre me levaram a procurar saber mais tanto sobre esses assuntos quanto sobre outros mais ou menos correlatos, como astronomia, biofísica etc. Consequentemente, séries como The Big Bang Theory e House, e filmes como O Guia do Mochileiro das Galáxias chamaram a minha atenção. Quando percebi que o univerno estava se abrindo a manifestações femininas nesse meio nerd, amei e quis me inserir nisso.

Até aí, tudo ótimo, tudo lindo! Show.

Só que eu comecei a perceber o hype que estava se dando a isso. Ser nerd passou a ter status, e ser mulher e nerd virou o paraíso, especialmente se sua beleza lhe impedisse de ser um espantalho contra mosquitos no papel de parede de um computador. De primeira, eu pensei “Pô, legal… valorização é importante, é isso aí”, mas com o tempo, aquilo passou a me incomodar. Vim ignorando tudo isso como pude até, precisamente, hoje. Tive vontade de reavivar esse blog, mas me deu uma preguiça imensa de escrever ao lembrar que o foco dele era só sobre games. Cara, eu sou gamer há 15 anos… acho que isso prova que eu gosto, sim, de jogos. Mas eu gosto de tantas outras coisas também! E em meio a um mar de meninas piriguetando forçando a barra pra passar a imagem de “Ui, sou gostosa e sou gamer/geek, idolatrem-me!”, essa preguiça nasceu. Eu não quero que gostem de mim porque meu avatar sou eu segurando um joystick, ou porque eu jogo Counter-Strike enquanto emito sons fofos com uma voz fininha. Não me entendam mal, contudo! Eu não estou dizendo que todas as meninas que fazem coisas assim só querem chamar a atenção! Tenho amigas que têm suas fotos com controles de video game e que são autenticamente assim. Além disso, com certeza há meninas que comem, bebem e respiram jogos. Contudo, essa não sou eu. Simplesmente. Ser monotemática me dá náuseas. Ter só um tema me deixa de barriga, pulmões e coração vazios.

Tem outro fator, também. Algumas das meninas que seguem essa linha trabalham com jogos (tá que eu não fico falando SÓ de literatura e linguística, mas…). Elas são designers, programadoras, sei lá, qualquer-coisa-assim. (Ainda assim, eu acho que não precisava dessa pose  “gostosa/fofa-e-gamer/geek”, mas vá lá que seja, é o ganha-pão delas). Só que esse claramente não é o meu caso! Mal sei fazer bonequinhos de stick à mão, quanto mais no photoshop ou outro programa. Como designer, sou uma ótima juíza de futebol. Não descarto a possibilidade de analisar a narrativa de jogos academicamente um dia, mas… é academicamente. Certamente posso dispensar a piriguetagem pose.

É por tudo isso que eu decidi mudar o foco desse blog. Eu sou nerd? SIM! Sou gamer? SIM! Sou geek? Mais ou menos, acho que teria que saber mais de matemática/programação/robótica/dafuq pra isso. Tenho orgulho disso? SIM! Mas quero transformar isso numa bandeira? DEFINITIVAMENTE NÃO! Se é pra chamar a atenção, que seja porque escrevo coisas legais, porque minha pesquisa na faculdade deu resultado, porque conversar comigo enriquece meu interlocutor de algum jeito, sejá lá o que for. E não porque eu tenho peitos e sei o que é WASD.

De poser o mundo já tá cheio.

6 responses to “Depois de um longo e tenebroso inverno…

  1. Muito bem colocado, e boa mudança de foco se for escrever sobre o que quiser, quando quiser e não sobre um tema específico. No pior dos casos você teria um blog pra cada coisa que gostaria de falar, e haja saco pra gerenciar todos!

    Sua declaração de como percebeu a que ponto chegou o hype lembrou-me quando um amigo disse que tava pegando mais mulher porque “nerd tá na moda” e olha que isso foi há muito mais anos do que o hype sugere, e hoje isso é tão superexplorado que dá nojo. Não neguemos: é mais fácil ser aceito agora do que ontem, mas o poserismo, em qualquer instância, é um veneno.

    No mais, minha opinião está nesse post =) http://pizzafrita.wordpress.com/2011/04/25/sobre-o-orgulho-nerd/

  2. Bem, sobre a questão de “ser poser” como nerd/geek/whatever, acredito que isso só existe por um motivo extremamente simples: excesso de valorização das gurias nerds/gamers/etc, meio que como você citou aí. Não culpo garotas que fazem isso, é injusto, mas sim a mentalidade que é alimentada/estimulada tanto por homens quanto por mulheres – e você sabe o quanto isso afeta ao ver caras se fingindo de mulher pra conseguir privilégios nos jogos.

    De resto, concordo com o texto de um modo geral.

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